E se conseguissem hackear seu cérebro?

Existe um cenário no qual nem mesmo o aprendizado contínuo seria suficiente para garantir os postos de trabalho: o da singularidade tecnológica.

por Gustavo Cardoso


13/11/2019 - 12:40 | 26/11/2019 - 11:40

Foto: Bigstock

Imagine viver no mundo de “Black Mirror”, onde os humanos podem utilizar tecnologias em seus cérebros. Esse cenário é possível de acordo com neurotecnologia moderna. No centro dessa questão está a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (Defense Advanced Research Projects Agency - DARPA) que é dona de um programa de desenvolvimento de uma "interface neural totalmente implantável e sem fios" para recuperação da memória perdida em decorrência de danos cerebrais em veteranos de guerra.

Segundo artigo do Journal of Neural Engineering há indícios provando que a técnica de "memória protética" foi bem-sucedida em testes. Segundo Robert E. Hampson et al., do Wake Forest Baptist Medical Center, Estados Unidos, foi possível chegar mais perto da codificação da memória humana. Foram realizados testes em 15 voluntários com epilepsia, submetidos a implantes intracranianos de eletrodos para monitoramento das crises.

Depois da implantação, alguns testes neurocognifivos foram realizados com os pacientes, incluindo tarefas curtas (cerca de dois minutos) de memorização como um simples jogo da memória virtual. Enquanto os pacientes realizavam os testes, estimulados pelos impulsos elétricos dos implantes, toda a atividade cerebral era gravada em tempo real para análise posterior, o que gerava códigos personalizados de memória para cada um deles.

Tomografia: os cortes axiais, posteriores e anteriores mostram o cérebro antes e depois dos implantes (flechas vermelhas) nos pacientes submetidos ao estudo (Hampson et al., 2019).

Como resultado, o sistema de memória protética conseguiu melhorar em 35% (média) a capacidade de memorização dos indivíduos.

Segundo Laurie Pycroft, pesquisador do Departamento de Cirurgia da Universidade de Oxford, Inglaterra, a tecnologia está mais próxima do que se imagina. Nesse mundo podem existir novos perigos, tais como criar um novo patamar de cibercrimes, onde um hacker poderia invadir o seu cérebro. Dali em diante, o ele pode, por exemplo, modificar as configurações dos sistemas atuantes em alguém com doença de Parkinson, por exemplo, e influenciar seus pensamentos, atitudes e comportamento. Ou até pior: bloquear seus efeitos e/ou causar paralisia temporária. Outra ameaça seria um hacker alterar suas memórias ou até mesmo apaga-las por dinheiro.

Se existirá ameaça, existirá proteção. De acordo com pesquisadores, as empresas de tecnologia estarão empenhadas em sistema de defesa para impedir tais atos criminosos. Como Elon Musk, o visionário e excêntrico CEO da Tesla e da SpaceX que também já andou explorando a neurotecnologia e prometeu, no ano passado, anunciar sua nova empreitada com a Neuralink (empresa disposta a desenvolver interfaces seguras e capazes de transformar pessoas comuns em super-humanos). Ela planeja lançar no curto prazo um dispositivo que permitiria conectar o cérebro a um computador e tornar seres humanos altamente competitivos com inteligências artificiais avançadas.

Este artigo foi baseado no artigo de ZIGOR ALDAMA, publicado por El País, 12-05-2013.